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Mostrando postagens de julho, 2019

PILAR E OS DOIS JOSÉS

Por Danilo Sili Borges Em algumas poucas cidades brasileiras, leitores de José Saramago, Nobel de Literatura, 1998, tiveram, neste mês de julho, a oportunidade de assistir a conversa entre Pilar Del Rio e José Luís Peixoto, autor do romance Autobiografia . Pelo que sei o evento ocorreu no Rio de Janeiro, durante a 17ª Festa Literária Internacional de Parati – FLIP – que se realizou entre os dias 10 e 14. A Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre promoveu encontro similar. Em Brasília, onde tive a oportunidade de estar presente, a organização coube à Embaixada de Portugal por meio do Instituto Camões, que, com grande frequência, promove eventos de interesse para a cultura da comunidade lusofônica. Um belo trabalho. Voltemos à conversa-debate: Para contextualizar, Pilar Del Rio é viúva de José Saramago, foi sua esposa pelos seus 22 últimos anos, é jornalista, escritora, tradutora, foi importante apoio no, talvez, mais produtivo período da vida do escritor e, como atestam

BELOS FILHOS, MUITOS PAIS

O garotão começou a nascer. É voz corrente que é lindo e milagreiro. Antes do seu nascimento, mensageiros vieram anunciá-lo aos quatro ventos e disseram: “Sem ele haverá desemprego, o governo não pagará salários e aposentadorias. O país continuará, se ele não nascer, patinando na mediocridade econômica. Essa é a vossa salvação.” E nos prometeram que com o nascimento, pouco a pouco, os 13 milhões de desempregados voltariam às fábricas, às lavouras e às obras. Que o Brasil voltaria a ser o “país do futuro”, porque o presente seria mais amigável. Mas nem sempre foi assim. Todos os governos, após 1985, falaram na Reforma da Previdência e na necessidade de implantá-la. Mostravam as contas e o crescente déficit do sistema previdenciário, que tinha que ser coberto pelo Tesouro, isto é, pelos impostos de todos. A conversa e a insistência não colavam. Mexer nesses direitos era altamente impopular e nenhum governo ousou enfrentar a questão. A solução: empurrar com a barriga. E o déficit fo

O MARACANÃ E O IBOPE

Por Danilo Sili Borges Domingo passado, o velho Maraca teve mais um dia de glória nestes seus quase setenta anos de existência. Neles viveu, e nós com ele, grandes tristezas e inumeráveis alegrias. Certamente a marca indelével foi a derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, logo após sua inauguração. Poucos são, hoje, os sobreviventes àquele desastre que nos conscientizou do nosso, hoje já superado, “complexo de vira-latas”.   Ainda assim, passarão os séculos, mas o gol de Ghiggia estará instalado na memória dos brasileiros desde o nascimento, é hereditário. Houve o contraponto: foi nessa mesma Copa que surgiu o grito de “Olé”, nos estádios do mundo, no jogo Brasil e Espanha, quando os nacionais golearam os ibéricos, num desempenho perfeito. Lembranças! O doce-amargo do futebol. Mesmo nos campeonatos locais e interestaduais assistimos ali, a cada fim de semana, jogadas memoráveis de Pelé, de Garrincha, de Zico, de Gerson, de Didi e de tantos outros. Naquela ép

A VOZ DAS RUAS

Por Danilo Sili Borges Paciente, persistente e resiliente é o povo brasileiro. Não passa mais de um mês sem que ocorra uma mobilização nacional com movimentos de rua, com grande participação popular. Disputa-se a área de asfalto e o número de camisas dessas ou daquelas cores que identificam os grupos que expõem, com força e ruído, reivindicações e insatisfações. Dizem alguns, “Ora, isso é do jogo democrático”. Não na intensidade do que está ocorrendo aqui. A leitura deve ser mais cautelosa e menos otimista. Quem conhece o bê-a-bá, sabe que os dutos pelos quais devem correr os anseios e as demandas da população em busca de soluções, de qualquer natureza, não estão fluindo. Daí inicia-se a corrosão da confiança nas instituições e nos homens que nelas se aboletaram. Ao não caminharem livres pelos canais próprios do sistema político, as demandas tornam-se exigências e urgências e entornam pelas ruas, como nas enchentes, as águas que se veem nas nossas cidades, a qualquer chuva,